Nuno Santa Clara
Há apenas alguns dias, uma
apresentadora de Televisão leu uma notícia em que era referido um tal Sampaio
da Névoa. Assim mesmo.
Dislexia ou falta de
atenção?
Penso
que, antes de mais, isto demonstra alheamento de quem não é colunável (ainda
que provisoriamente). Se se tratasse, em vez de um antigo reitor de
Universidade, de um ator de telenovela ou desportista promissor, não se teria
dado este lapso. No mesmo sentido do alheamento (nas desta vez voluntário) se pronunciou
um político partidário, dizendo que Sampaio da Nóvoa era um desconhecido.
Uma questão se levanta:
como se faz um político? Aparentemente, e a crer nas reações acima descritas, a
função está vedada a desconhecidos. Quem não for conhecido (quase diria nascer
conhecido, como nas monarquias) não pode ser candidato - quanto mais ser
eleito.
Seguindo esta linha de
raciocínio, acabaríamos na famosa questão do ovo e da galinha - questão
profunda, que ainda ninguém resolveu.
Se analisarmos, ainda que
superficialmente, o que se passa noutras Democracias, constatamos que a maioria
dos governantes tiveram outras carreiras antes de dar o salto para a Política.
Ou seja, foram ovo, e depois viraram galinha.
Ora, no Portugal de hoje,
debuta-se na política desde os bancos da escola – não no sentido de um louvável
esclarecimento, mas como o princípio de uma carreira de futuro. Ou seja, esses
políticos foram ovo, mas continuam ovo.
E este é um do motivos que
me faz apoiar Sampaio da Nóvoa: alguém que trilhou um caminho pouco fácil,
recheado de obstáculos, cursos (sem equivalências), concursos, trabalhos,
lições, palestras, etc.; depois, entendeu querer pôr as suas capacidades ao
serviço do interesse comum, em vez de uma sinecura que lhe teria sido fácil
obter.
Outro motivo é a coragem
com que se apresentou, de certo modo contra a corrente. A sua candidatura vem
daquela nebulosa que constitui a esmagadora maioria do Povo Português, que vem
nutrindo um sentimento de frustração em relação à praxis política atual, tornada
tradicional em duas gerações. Sampaio da Nóvoa parece representar esse
sentimento talvez difuso, mas que vem tomando corpo, tanto em Portugal como
noutros países, como a vizinha Espanha, e que vem a provocar aquilo que, na
aparente paz em que vivemos, me parece o mais importante: lançar uma pedrada no
charco.
Não há Democracia sem
partidos políticos, e é no seio destes que devem ser encontradas as soluções
institucionais para as sociedades. Mas se os partidos não forem confrontados e
não responderem perante quem lhes dá vida, ou seja, pela massa dos cidadãos
eleitores, o divórcio é inevitável. E as saídas podem não ter nada de
democrático. E os partidos são como os seres vivos: nascem, crescem e também
declinam e morrem – sem que tal implique a falência do sistema. Quantos
partidos conhecemos nós desde 1820?
Um terceiro motivo deriva
deste sentimento, que se vai afirmando em diversos setores da nossa sociedade.
Esse sentimento está em marcha, e de nada vale declarar vitorianamente que “não
sei quem é”, ou “não quero saber”. Não terá talvez a pujança de idênticas
movimentações noutras paragens; mas, no entanto, ele move-se…Outros motivos
haveria – e haverá decerto muitos mais, e o futuro se encarregará de os divulgar.Mas,
para mim, estes são princípio suficiente. Suficiente no sentido de justificar o
meu empenhamento.